sexta-feira, 23 de abril de 2010

Maratona - Massa de pizza

Por Sérgio Xavier Filho
BlogCorreria
http://runnersworld.abril.com.br/blogs/correria/massa-pizza-232133_p.shtml

Por essas coincidências da vida, cruzei essa semana com 5 bons corredores. Alguns excelentes, muito rápidos, com tempos expressivos em 10 km ou meia maratona. Só que virgens ou estreantes em maratonas. Uma amiga rápida e raçuda fez a última Maratona da Disney em janeiro. Era sua primeira, acabou em 3h58 decepcionada. Acabei me lembrando na hora da história do Eduardo Elias. Nem vamos misturar as estações, já que o Edu correu gravando para a ESPN, não conta. Já a minha amiga tinha estofo para uma prova perto de 3h30. Planejou de forma conservadora a corrida, para ficar entre 3h50 e 3h55, e não conseguiu. O sub 4 horas foi um bom consolo. Ontem conheci uma garota de 45 minutos nos 10 km. Em qualquer tabelinha de conversão estaríamos falando de maratona perto de 3h30 também. Ela quer fazer sua primeira maratona, não sabe se consegue, não sabe o que estimar.

Aí parei para pensar na maluquice que é pessoas que correm com força ficarem inseguras com a distância maior. É nessas horas que fica realmente claro como a maratona é especial. Quem sai de 5 km para 10 km pode fazer um longão de 8 km e ter a quase certeza que o ritmo proposto não resultará em quebra. Quem já faz os 10 km, encara um longão de 18 km e corre para o abraço na meia. Treinou bem, levou. Meritocracia. Maratona não é bem assim, aí estão o Rodrigo Fonseca e o Gerrit tentando achar o número mágico do ritmo. Os dois correm com a faca no tênis, sempre com o PR como cenoura, e não sabem direito o que fazer em sua primeira maratona.

A insegurança se explica. Não há como saber ao certo. Maratona é a única das distâncias mais tradicionais que oferece a imprevisibilidade como ônus. Por melhor que seja a simulação do longão, a maratona perfeita precisará se apoiar na experiência de uma maratona anterior. Por tudo isso, o conservadorismo em uma primeira me parece sempre a medida mais inteligente. Já que a primeira maratona dificilmente será corrida no ritmo perfeito, melhor ter uma prova lenta como parâmetro do que ter uma maratona com quebra no currículo. E nem estou falando da decepção com a quebra em si. Estou olhando para a frente. A corrida com quebra é inutilizada como experiência para a próxima. As passagens, as sensações, as dores que vem e vão, tudo isso vai para o lixo quando terminamos uma prova caminhando ou se arrastando. Quebrar numa maratona é como o saltador que pisa na tábua e queima a tentativa. É zero.

Talvez a maratona tenha algo da massa de Pizza. Imagine o percurso da prova como uma mesa salpicada de farinha. O pizzaiolo tem a frente uma bola de massa que se trasformará em disco com a ajuda de um rolo. O lógico seria esticar a massa em uma passada de rodo só. Mas isso não é possível. A massa tem elasticidade, são necessárias várias esticadas para que o disco não rache. Talvez sejamos como uma pizza. Precisamos correr em um tempo maior na primeira maratona para ganhar aos poucos a forma de maratonista de verdade. Ou tentar dar o máximo na primeira e correr o risco de quebrar como uma massa de pizza.

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