sexta-feira, 29 de maio de 2009

O começo



Walter Molina – Treinador da Natal Runner http://blogdanatalrunner.blogspot.com/

Assim como qualquer coisa na vida, o importante é começar, porém o mais importante é "saber como começar". Isso é válido para todos os que nunca correram e até mesmo para aqueles que já correm.

Muitos são os motivos que nos levam a correr. Desde os mais despretensiosos, como "o pessoal do trabalho corre e gostaria de ir junto", até os mais ouvidos como "preciso emagrecer”. Junto com os motivos vem os mitos e os receios, "não consigo correr”, “não agüento" ou "tenho problema no joelho".
A corrida deve ser encarada como um projeto de vida, e como tal é preciso ter calma e persistência. O processo de transição caminhada/corrida é o passo mais importante. Tenha paciência, no início você não sentirá prazer e nem perderá muito peso rapidamente, dores aparecerão e você também não conseguirá correr 5 km na primeira vez e por mais que consiga não o faça!

Não se esqueça que "nem sempre o que você sente é o que o organismo assimila!" Os músculos, as articulações, o sistema cardiopulmonar precisam ser devidamente preparados para o esforço. A evolução é gradual, não se compare com quem já corre há muito tempo, apenas treine e sinta a evolução, respeite suas limitações e siga as orientações do seu treinador, exponhas suas dificuldades e quando menos esperar estará sentindo todos os benefícios que a corrida proporciona.

"Lembre-se, exames clínicos preliminares são imprescindíveis!"

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Para melhorar a performance na corrida



Para melhorar a performance na corrida
Renato Dutra
http://veja.abril.com.br/blog/saude-chegada/

Recebo muitos emails com dúvidas sobre como evoluir nos treinos de corrida. O ciclo de evolução é conhecido por profissionais, mas quase sempre surpreende os leigos. Muitos corredores evoluem bastante no início do treinamento, principalmente no primeiro ano de corridas e provas. É uma fase espetacular, pois a melhora acontece de forma rápida e relativamente fácil. Infelizmente, esse período acaba e vem a estagnação.

Chega um ponto em que o praticante começa a evoluir bem pouco ou nada. Muitos não entendem esse processo, mas trata-se de uma lei do treinamento desportivo, descrita como princípio da treinabilidade: "Quanto menos treinado for o indivíduo, mais treinável ele é, e vice-versa". Para ilustrar este princípio, o gráfico abaixo mostra a evolução de um corredor que eu acompanho há mais de dois anos. Notem como a evolução obtida nos primeiros meses de treino é incrível e depois torna-se mais lenta até quase desaparecer. Esse comportamento tem se repetido invariavelmente com outros atletas.

Para manter a evolução

Mesmo que esse processo obedeça um lógica, nós corredores queremos continuar melhorando sempre. Claro, que não na mesma velocidade do início, mas é possível, sim, continuar evoluindo. Para obter melhores resultados é essencial refinar o treinamento. Este refinamento requer a supervisão de um treinador, nutricionista e outros profissionais que irão calibrar a alimentação, a intensidade, duração e frequência dos treinos de corrida e também as sessões de fortalecimento muscular, de modo a gerar o estímulo ideal para levar o praticante mais próximo de seu potencial genético.

Ter supervisão e estrutura profissional é quase sempre um investimento pouco viável economicamente para a grande maioria dos brasileiros. Uma alternativa seria participar de um grupo de corrida, procurando obter dos profissionais as orientações individuais necessárias para otimizar o treinamento. E uma terceira opção (muito utilizada no Brasil) é explorar o conhecimento técnico disponível nas revistas especializadas e internet. É claro que, quanto menos individualizada a orientação, menos garantias de resultados.

A genética também importa

Outro aspecto a ser discutido é o potencial genético para a corrida de longa distância. Enquanto alguns indivíduos conseguem correr 10 quilômetros em menos de 50 minutos, treinando só duas vezes por semana, outros menos afortunados precisarão treinar quase todos os dias para obter esta marca. Da mesma forma que há indivíduos que engordam mais facilmente e outros que são magros, apesar de cometerem grandes excessos alimentares.

Todos podem correr, mas cada um, por mais dedicado e melhor que seja seu treinamento e estilo de vida, esbarrará em seus limites genéticos.

sábado, 23 de maio de 2009

Devagar com o entusiasmo

http://veja.abril.com.br/270509/p_168.shtml
Devagar com o entusiasmo

Após três meses de sedentarismo, você renova sua promessa de
se exercitar voltando à aula avançada de spinning. Ou, de repente
, transforma a caminhada diária no parque em uma trôpega corrida
de 5 quilômetros. Depois, mal consegue subir os degraus de uma escada, tamanha a dor

O MOTIVO
O esforço excessivo durante a atividade física provoca microlesões nos músculos. Essas rupturas levam a uma resposta inflamatória, que é a causa da dor

O QUE FAZER NO DIA SEGUINTE?
Beba bastante líquido — Durante o exercício, houve um aumento da temperatura corporal. O organismo perdeu água e é importante repô-la. A desidratação pode agravar a fadiga muscular e causar cãibras

Faça uma caminhada leve — Atividades de baixa intensidade, como andar por quinze ou vinte minutos, aumentam o fluxo sanguíneo, levando oxigênio e nutrientes à musculatura. Isso alivia o desconforto

Alongue-se, mas sem grandes esforços — Durante a atividade física, houve um aumento da contração muscular. Sessões de alongamento, massagem e drenagem linfática ajudam a relaxar a musculatura

Não recorra a anti-inflamatórios sem orientação médica — Isso mascara a dor, encobrindo a resposta do corpo. Fica difícil saber qual é a extensão da lesão muscular provocada pelo esforço

Três coisas para não fazer jamais

1 Medir a pulsação no pescoço: na ausência do frequencímetro, evite sentir a pulsação nessa região, onde estão as carótidas. Nelas há receptores de pulsação e pressão que, se comprimidos, podem levar a uma queda acentuada de pressão e, em casos extremos, a um colapso cardíaco. O melhor é estender os dedos sobre o pulso para medir a pulsação

2 Desconsiderar sinais do corpo: azia, palpitações, tonturas, aceleração do coração, falta de ar, dores no peito, nas costas ou na cabeça são todos indícios de que o exercício deve ser interrompido imediatamente e o médico, consultado. Muitas mortes súbitas depois dos 35 anos deram um aviso que foi ignorado pelo atleta

3 Malhar com algum tipo de virose: se estiver com gripe, por exemplo, não pratique atividades esportivas. E não é só para não piorar o quadro. A teimosia pode desencadear arritmias e, em alguns casos, levar à parada cardíaca

Atentados à saúde

http://veja.abril.com.br/270509/p_166.shtml
Anna Paula Buchalla (abuchalla@abril.com.br)

Atentados à saúde

Especialistas consultados por VEJA elencaram os quatro principais erros de quem se exercita sem orientação e os riscos que eles acarretam:

Uso de tênis inadequado
Grau de risco: alto
O que pode ocorrer: o mau uso é responsável por quatro das nove principais lesões causadas pela prática incorreta de exercícios, entre elas fratura por estresse, tendinite no calcanhar e no joelho e bursite, que é a inflamação nas articulações
Exame recomendado: teste da pisada. O tênis é escolhido de acordo com o tipo de pé (cavo, normal ou plano) e de pisada (neutra, pronada ou supinada)
Onde fazer: lojas de tênis e artigos esportivos
Comentário dos especialistas: as lesões acontecem porque, a cada passada, os membros inferiores recebem de três a quatro vezes o peso do corpo. O amortecimento do tênis ajuda a diminuir esse impacto, mas é preciso respeitar a sua vida útil: 500 quilômetros de uso é o limite máximo

Não avaliar a função cardíaca e respiratória
Grau de risco: altíssimo
O que pode ocorrer: a pressão alta, presente em cerca de 25% da população acima de 40 anos, é um mal silencioso que, durante o esforço físico, pode levar a um derrame cerebral. Entre 2% e 5% das mortes súbitas no esporte decorrem de anormalidades no sistema elétrico do coração.
Exames recomendados: teste ergométrico e eletrocardiograma. O primeiro monitora a atividade do coração enquanto o paciente se exercita na esteira ou na bicicleta. Já o eletro percebe sinais de isquemias e outros males
Onde fazer: centros de medicina esportiva, hospitais ou laboratórios
Comentário dos especialistas: obrigatórios em qualquer avaliação física, esses exames são essenciais. Um estudo de uma grande academia mostrou alterações em 33% dos testes ergométricos feitos por alunos saudáveis. Destes, 21% apresentavam pressão alta, 11% arritmias e 1% isquemia

Não medir a capacidade aeróbica máxima
Grau de risco: alto
O que pode ocorrer: esforços além do limite também podem causar de arritmias a parada cardíaca
Exames recomendados: teste ergoespirométrico ou cardiopulmonar. Na esteira, o atleta é submetido a um teste ergométrico ao mesmo tempo em que são medidos o consumo de oxigênio e a liberação de gás carbônico. O médico define, então, o ritmo adequado da atividade aeróbica
Onde fazer: hospitais ou laboratórios
Comentário dos especialistas: detectar de forma precisa a faixa ideal de frequência cardíaca durante o treino não apenas evita esforços prejudiciais ao organismo como ajuda a aprimorá-lo. Ou seja: estabelece a zona de treinamento apropriada para quem quer ganhar músculos ou perder peso

Exercitar-se sem fazer uma avaliação nutricional
Grau de risco: médio
O que pode ocorrer: fraqueza, queda de pressão, osteoporose e desidratação
Exames recomendados: bioimpedância, metabolismo de repouso e densitometria. O primeiro aponta as taxas de gordura, massa magra e a quantidade de água no corpo. O exame que mede o metabolismo revela como cada tipo de organismo queima calorias, se acima ou abaixo do recomendado. A análise da massa óssea, muscular e de gordura ajuda na prescrição da atividade física
Onde fazer: clínicas nutricionais e laboratórios
Comentário dos especialistas: os exames são a melhor forma de saber como gastar as calorias em excesso ou ingerir as que faltam

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Corrida Jerônimo de Albuquerque - 17º GAC



Corrida Jerônimo de Albuquerque - 17º GAC

Data do Evento: 06/06/2009

Taxa de inscrição: 2 Kg de alimentos não perecíveis (exceto sal).

Período de incrições: 11 a 27 de maio de 2009.

Números de participantes: Limite de 500 atletas.

Locais de inscrição:

- 17º GAC (Santos Reis)
- Nordestão (Logoa Nova)
- Ótica Diniz (Norte Shopping) Zona Norte

Local da prova:
Concentração e largada na Cervejaria Continental às 7 horas e chegada no Forte dos Reis Magos.

Informações: (084) 3202 - 7700 ou 3202 - 3896

terça-feira, 19 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Corrida pode exigir atestado : Análise do Ministério da Saúde sugere obrigatoriedade de documento em inscrição em prova de rua

Confederação de atletismo, porém, prevê dificuldade com logística e aposta na eficácia de uma campanha nacional de conscientização

EDUARDO OHATA
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na esteira das mortes ocorridas durante ou após corridas de rua, um dos consultores do Ministério da Saúde sugeriu incluir em uma portaria a obrigatoriedade da apresentação de atestado médico para quem for disputar esse tipo de competição.

O tema central do documento, que trata de morte súbita, é tornar obrigatória a presença de um ou mais desfibriladores durante a realização de eventos de grande concentração, como comícios, shows, corridas etc.

"Alguns critérios mínimos têm que ser obedecidos para uma pessoa ser liberada para o esporte competitivo. Vou sugerir a exigência de atestado médico na inscrição ", diz Sérgio Timerman, consultor da área de urgência e emergência do Ministério da Saúde e diretor do Centro de Treinamento do Incor (Instituto do Coração).

A iniciativa tem seus céticos. "Já houve essa exigência [do atestado]. Mas hoje, com o recurso da inscrição via internet, como você poderá pedir, por exemplo, o atestado na hora da inscrição da São Silvestre para alguém conectado de Manaus ou até de fora do país?", diz Martinho Nobre dos Santos, secretário-geral da Confederação Brasileira de Atletismo.

"E não se esqueça que atestados podem ser falsificados. Eu acho que uma campanha de esclarecimento seria mais eficaz, especialmente voltada ao pessoal de idade que ouve que caminhar, correr faz bem e sai por aí sem antes fazer teste ergométrico", completa.

O argumento do dirigente encontra eco entre treinadores de atletismo, preocupados com o boom de provas de rua.

"Há muita gente começando a correr por conta própria. Pega um treino numa revista e sai fazendo", critica Nelson Evêncio, técnico de atletismo. ""A corrida é vendida como algo simples, natural. Correr é natural, treinar corrida é uma outra coisa."

O "componente comercial" é responsabilizado em grande parte pelos casos de problemas cardíacos relacionados às provas de rua por Nabil Ghorayeb, cardiologista e presidente do Grupo de Estudo de Cardiologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia. ""Aumentou muito o número de praticantes, e não podemos esquecer o componente comercial. É preciso haver uma mensagem de cuidado", diz ele.

Segundo o médico, o envolvimento com a corrida ocorre às vezes de forma tão rápida que o praticante abre mão dos exames. Ou até realiza os testes, mas não retorna ao médico.

"Eles lêem que está tudo "normal". Só que às vezes podem existir detalhes que mostrem perigo. Maratona ou corrida de rua não mata, fora o caso de desidratação extrema ou fato metabólico extremo. O que mata é uma doença não diagnosticada ou subestimada pelos corredores", diz Ghorayeb.

Outra sugestão ligada à prevenção de incidentes fatais, dada por Timerman, é a preparação dos profissionais que atendam quem sofre problemas cardíacos durante as provas. ""Não precisa ser médico, mas alguém que inicie os procedimentos até o médico chegar."

terça-feira, 5 de maio de 2009

Quando não alongar: dicas de um preparador físico

Preparador físico apresenta alguns casos em que o alongamento tem suas contra-indicações para os corredores. Saiba quando não se deve alongar

Felipe Romano é preparador físico em São Paulo (romano.assessoriaesportiva@gmail.com)


O alongamento para corredores continua sendo um assunto muito discutido. Quando e como alongar são questões controversas. Muitos atletas e profissionais acreditam na capacidade que os exercícios de alongamento têm de diminuir risco de lesões. Muitos se sentem bem quando alongam, outros acreditam que o alongamento diminui a performance, ou ainda acham que estes exercícios não mudam nada.

Quando não se deve alongar? Segue abaixo alguns casos que apresentam o alongamento como contra-indicação.

Nunca alongue músculos frios. Antes de iniciar qualquer alongamento você deve estar com a musculatura aquecida. Pode ser um trote de 5 a 10 minutos, pedalar ou fazer uma caminhada rápida, fazendo você transpirar e aumentando o aporte sanguíneo nos músculos a serem alongados. Feito isso, você pode iniciar a sua série de alongamento.

O músculo aquecido apresenta uma capacidade elástica maior do que o músculo frio, facilitando o alongamento e menor risco de lesão ou estiramento muscular. Corredores que treinam pela manhã devem ter mais cuidado ao alongar, pois a temperatura é mais baixa, principalmente no inverno.

Em dias frios as chances de lesão muscular são maiores. No frio, a resposta das articulações e músculos ao alongamento estão mais lentas, o suporte sanguíneo diminuído e o músculo menos elástico. Por isso, é necessário fazer um bom aquecimento para elevar a temperatura corporal e preparar os músculos para o alongamento e corrida. Caso contrário, o risco de lesão é grande.

Não alongar músculos extremamente aquecidos. Neste caso o risco é você não sentir o quanto pode alongar um músculo, já que a tolerância para dor estará alterada, devido à liberação de endorfinas, circulação extremamente aumentada, aumento da mobilidade articular e diminuição da tensão muscular.
Após terminar um treino ou prova, o melhor a fazer é esperar os seus músculos esfriarem um pouco e então alongar.

Não inicie o alongamento durante a cãibra. A cãibra é uma contração muscular involuntária que não consegue ser interrompida. A primeira coisa a fazer é facilitar a contração completa do músculo aproximando suas duas pontas (origem e inserção), manter por alguns segundos até que a dor diminua, massagear a musculatura por mais alguns segundos e então iniciar um alongamento suave.

Se você iniciar o alongamento durante a cãibra você pode provocar um reflexo de contração. Isso ocorre porque uma fibra muscular se contrái por completo, ou não sofre nenhuma contração, chamado de "tudo ou nada". Dessa forma, um músculo nunca interrompe uma contração no meio. Então, se for alongado durante a cãibra, o músculo tentará se contrair ainda mais, o que resultará em aumento da dor e possível lesão de fibras musculares.

Não alongue logo após lesões ou estiramentos musculares. Num período que pode variar de uma a duas semanas, dependendo do grau da lesão muscular, deve-se evitar o alongamento do músculo lesado.
Após a lesão muscular, num período de 6 a 24 horas ocorre o início da regeneração tecidual.

Após 3 dias começa o processo de cicatrização, o que se estabiliza em 2 semanas. A cicatrização completa pode levar de 15 dias a 2 meses, dependendo do grau da lesão. Por isso, é necessário orientação profissional para que sejam avaliados o grau de lesão e a fase correta para se iniciar o alongamento. Dependendo da fase da cicatrização que se encontra a lesão, o alongamento pode ser prejudicial e agravante da lesão.

Lembre-se, alongar faz bem, so depende de como você conduz esse processo.

domingo, 3 de maio de 2009

Corrida dos Correios

A Corrida dos Correios não acontecerá no mês de maio. Vai ser realizada no dia 29 de agosto.

O primeiro Polar a gente nunca esquece

Por Antonio Prata. Publicado na revista Runners.

Quem teve aulas de educação física antes da queda do muro de Berlim certamente se lembra de fazer polichinelos. O mundo era mesmo outro: davam-se ovos às crianças, fumava-se dentro dos ônibus, ninguém usava protetor solar e, antes do futebol, do vôlei ou do basquete, ficávamos dando aqueles pulos ridículos, abrindo e fechando braços e pernas no ar, como se estivéssemos num porto a nos despedir de parentes num navio distante.

É de se imaginar que alguém dessa geração, que cresceu praticando formas medievais de aquecimento (imagina só o que aqueles pulos de pernas abertas e esticadas não eram para as articulações dos joelhos e tornozelos?!) só podia olhar com desconfiança para um medidor de freqüência cardíaca. Eu achava que era muita frescura ter que consultar um relógio para descobrir se estava cansado, coisa de gente neurótica, que analisava a tabela nutricional antes de comprar um pote de iogurte.
Acontece que quem teve aulas de educação física antes da queda do muro de Berlim já não é mais uma criança, e uma das vantagens da maturidade é que ficamos mais tolerantes com nós mesmos, admitimos algumas frescuras e aceitarmos nossas neuroses, de modo que, não muito tempo depois de começar a analisar a tabela nutricional dos potes de iogurte, comprei um Polar pela internet.

Não sou o tipo de pessoa que lê manuais de instrução, mas em bula de remédio vou até o fim (pulo só “gravidez e lactação”), e o manual do Polar é um meio termo entre os dois gêneros literários. O medidor de frequência é uma espécie de videogame de nós mesmos, um joguinho com nosso corpo, no qual temos apenas uma vida para gastar e, portanto, não é bom vacilar.

Programei-o com esmero. Pus ali idade, altura, peso. Resisti à tentação de me dar uns dois centímetros a mais, ou uns três quilos a menos – mentir para o próprio Polar é o cúmulo da mitomania - e, depois de alguns minutos, apertei o botão maior, esperando para ver o que ele fazia com meus dados.

Comecei a correr aos vinte anos, quando parei de fumar e passei a comer bolo de rolo de doce de leite com Häagen Daaz de doce de leite e, por cima de tudo, doce de leite. Não corro muito, umas três vezes por semana, quarenta minutos, uma hora. Meu máximo foi uma São Silvestre -
- coisa que não causa grande efeito entre os entendidos, mas me rende algum prestígio em festas e bares da Vila Madalena. Tendo passado de sedentário à corredor, contudo, sinto-me um grande atleta. Ou sentia-me, antes do Polar...

A tela piscou e começou a surgir uma palavra, da esquerda para a direita. Fiquei excitado. Não era só o diagnóstico do computador sobre minha forma física, mas a primeira comunicação daquele ser que eu acabara de ensinar a falar, e que a partir de então iria comigo de cima para baixo, amarrado ao peito e ao punho. E o que foi que ele disse, o ingrato? “Overweight... Overwieght... Overweight...”. Gordo! Gordo! Gordo!, era o que passava na telinha.

Tá certo, tá certo. Não adianta querer se enganar. Pelo menos, não com um Polar no pulso. O jeito é correr mais e comer menos. Agora que escrevo para a Runners, tenho não só uma desculpa, mas a obrigação de fazer com que esse medidor de frequência engula seus impropérios. Ele vai ver só. Essa barriga ainda vai ser coisa do passado, assim como os cigarros, os ovos, os polichinelos e o muro de Berlim.