terça-feira, 3 de agosto de 2010

Parar não é desistir

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0308201010.htm
Aprende-se mais com aquelas provas que não acabaram da maneira que você desejava

A MARATONA do Rio é a mais linda do Brasil. O mar que bate nas rochas, as praias cheias de curvas e as montanhas que a tudo observam fazem do percurso uma aventura de visões e sensações, ajudando os corredores a completar o exaustivo percurso.

Mesmo assim, nem todos conseguem. Batidos por dores, pelo cansaço ou pelo desânimo, mais de 1.000 dos anunciados 4.000 inscritos na maratona carioca abandonaram a prova antes do seu final. Pararam, largaram, saíram, foram embora.

Pois fizeram muito bem.

Talvez ainda agora estejam sofrendo com a decisão, perguntando se o que fizeram foi certo mesmo. Afinal, quando alguém decide se preparar para uma maratona, investe ali o melhor de si: tempo, dedicação, suor. Forja, ao longo de quilômetros solitários, a coragem de começar e a resistência para seguir, a vontade férrea para vencer dúvidas e dores.

Nem sempre é o suficiente.

Às vezes, os 42.195 metros são mais fortes que nós. Na primeira vez que parei em uma maratona, fiquei perdido, perguntando o que tinha feito de errado. Fiquei envergonhado, decepcionado comigo e furioso com a vida.

Chorei um pouco, até, mas uma semana depois estava correndo em outro canto do mundo, subindo morros e festejando novas conquistas. Às vezes, parar é a melhor forma de prosseguir.

"O negativo, quando se abandona uma prova, é o fato de você perder para você mesmo. Em compensação, você vai menos desgastado para outra prova e pode até ir bem melhor", ensina Valmir Nunes, o maior ultramaratonista brasileiro, recordista pan-americano de provas de 24 horas.

Com ele concorda o melhor maratonista do país, Marílson Gomes dos Santos, bicampeão de Nova York: "Normalmente aprende-se mais com as provas que não ocorreram como você gostaria do que com aquelas em que dá tudo certo".

Desobedecer os sinais do corpo pode ter consequências definitivas. "Você pode passar do limite, e o coração não vai aguentar o exercício", diz Rogério Teixeira da Silva, doutor em ortopedia e medicina esportiva.

O melhor mesmo é a gente aprender que nem tudo é como queremos o tempo todo. E seguir em frente, com uma certeza: na corrida, como na vida, parar não é desistir.
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RODOLFO LUCENA , 53, é editor do caderno Tec e do blog +Corrida (maiscorrida.folha.com.br), ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record)

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