domingo, 12 de setembro de 2010

Passadas solidárias

Por RODOLFO LUCENA - rodolfo.lucena@grupofolha.com.br
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq3108201010.htm


DESDE QUE comentei no blog "+ Corrida" sobre a lesão que vem me atazanando a vida, impedindo que eu prossiga minhas corridas em paz, venho recebendo um sem-número de mensagens de leitores e amigos. São dicas de tratamento, exemplos de superação, informações sobre casos parecidos ou simples palavras de apoio: vai que dá.

Além de emocionarem, essas mensagens me fizeram rever a vida corrida, relembrar os tempos de trilhas e asfalto e perceber, de forma cristalina, quão grande é o espírito de companheirismo que grassa entre os corredores, que a cada passo dão exemplo de solidariedade -ação cada vez mais rara na nossa vida ultracompetitiva, estressada, violenta até.

Começa por coisas simples, como um tênis desamarrado. É só alguém ver, durante a prova, um cadarço esvoaçante, que a balbúrdia se instaura. Um grita ao lado, outro avisa, até que o incauto perceba o risco que corre.

E não é pequeno. Um tropicão pode redundar em ossos partidos. Se a prova estiver muito concorrida, a queda de um pode levar outros de roldão, e aí vira uma caca geral. Em provas mais longas, é comum dividir mantimentos.

Um copinho de água na hora do sol é uma bênção, um sachê de carboidrato revigora as energias, uma palavra de incentivo pode ser a diferença entre se arrastar e parar ou trotar até o final. Todos temos histórias assim para contar, de encontros benfazejos em momentos difíceis.

De olho nessa característica, muitas entidades pedem ajuda a corredores para divulgar causas humanitárias.

No próximo domingo, haverá, em São Paulo, uma prova para arrecadar fundos para um hospital que trata pessoas com câncer; em outubro, o Brasil recebe pela primeira vez uma etapa da Race for the Cure (corrida pela cura), pela conscientização sobre o câncer de mama.

Há corrida e caminhada contra o tabagismo, outra pela doação de órgãos e até uma prova pela inclusão social (confira no blog os sites de algumas iniciativas).

E há empreendimentos solitários, como os de alguns ultramaratonistas. Carlos Dias, corredor de longas distâncias, inicia em setembro uma jornada pelo perímetro do Brasil. Pretende correr 18.250 km em um ano, vendendo quilômetros para arrecadar fundos para o Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer).

Enfim, cada um faz a sua parte. E segue a vida, com passadas solidárias. Elas fazem bem a todos.

RODOLFO LUCENA, 53, é editor do caderno Tec e do blog +Corrida (maiscorrida.folha.com.br), ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record)

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