sexta-feira, 10 de abril de 2009

Entrevista - Saúde www.veja.com.br

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Paul D. Thompson, chefe de cardiologia do Hartford Hospital, em Connecticut (EUA), é internacionalmente conhecido por seus estudos na área de atividade física e saúde – além de casos de morte súbita em atletas competitivos. Ele é autor ainda do livro O Exercício e a Cardiologia do Esporte. Leia a seguir os principais trechos da entrevista dele a VEJA.COM.

VEJA.com - A sociedade está enganada ao pensar que o esporte é uma atividade saudável e que prolonga a vida?
Thompson - Não, a sociedade não está errada ao pensar que exercício é sinônimo de saúde e que estende a vida. Isso funciona para a maioria das pessoas. Estudos comprovam que exercícios físicos ajudam a controlar os fatores de risco que provocam a doença arterial coronariana. Exercício é bom, em geral. O problema é que algumas pessoas, especialmente jovens atletas, têm anormalidades no coração que, nesse caso, podem causar a morte súbita. Então, para essas pessoas, exercícios provavelmente não
ajudam – e, de fato, aumentam os riscos. Em outras palavras, exercícios ajudam a prevenir o depósito de gorduras nas artérias. Mas se você já tiver as artérias entupidas e continuar se exercitando, corre o risco de ter um ataque no coração ou simplesmente cair morto durante o exercício.

VEJA.com - O que os praticantes precisam saber para não serem surpreendidos durante um exercício físico?
Thompson - Primeiro, eles precisam saber que o exercício físico não é a cura para todos os problemas. Eles não podem se exercitar e fumar, e também não podem se exercitar e continuar a ter um alto índice de colesterol. As pessoas têm que se cuidar em todos os aspectos. O segundo ponto é que as pessoas precisam conhecer seus limites. Se elas sentirem alguma coisa ou apresentarem sintomas durante a prática de esportes, precisam parar. Nesse caso, é importante que elas procurem um médico para avaliar o que está acontecendo. Muitos atletas que morreram subitamente durante a prática de exercícios apresentaram sintomas, que eles simplesmente ignoraram.

VEJA.com - A intensidade do exercício pode ser um fator crucial para os problemas cardíacos?
Thompson - Obviamente, quanto mais intenso é o seu exercício, mais perigoso ele se torna, se você tem algum problema cardíaco.

VEJA.com - Alguns exercícios podem ser mais perigosos para o coração do que outros?
Thompson - Não, eu diria que provavelmente a intensidade aplicada em um exercício é mais determinante para o risco do que o tipo de atividade.

VEJA.com - Uma pessoa comum, que faz ginástica todos os dias, precisa entrar em pânico devido aos riscos?
Thompson - Não, as pessoas não precisam entrar em pânico. O que elas precisam fazer é procurar um médico que possa aconselhá-las sobre todos os fatores de risco. Se elas têm altos níveis de colesterol, elas podem se exercitar, mas precisam ser tratadas. Se elas possuem pressão arterial elevada, devem praticar atividades físicas, desde que a pressão alta seja controlada. Se elas fumam, é preciso parar de fumar.

VEJA.com - O senhor acredita que os atletas profissionais devem ser submetidos a um eletrocardiograma antes das competições?
Thompson - Na Itália, é lei que todos os atletas sejam avaliados por uma série de exames que dão ou não a permissão para que eles entrem em competições. Mas o que acontece é que cerca de 10% dos atletas italianos precisam de testes adicionais, como um eletrocardiograma ou algo a mais. Então, há um gasto financeiro exorbitante para o sistema médico de saúde. Por isso, acredito que, se há a necessidade de que um atleta passe por exames específicos, isso não deve ser uma regra e obrigatória por uma lei do governo, mas sim precisa ser dito pelo médico. Nos últimos tempos, pelo menos nos Estados Unidos, nós estamos tentando dar às pessoas melhores condições no tratamento de saúde – mas também nos preocupamos com o custo disso.

VEJA.com - Então uma pessoa normal também não precisa realizar um eletrocardiograma antes de praticar esportes?
Thompson - Isso depende de seu médico. Em algum momento da sua vida, provavelmente você terá de se submeter a um eletrocardiograma. Mas isso não deve acontecer só porque você é um atleta ou pratica esportes frequentemente. O especialista é quem vai dizer se você deve ou não fazê-lo.

VEJA.com - Uma pessoa diagnosticada com problemas cardíacos deve abandonar os esportes para sempre?
Thompson - Pode acontecer, mas depende do tipo da doença cardíaca de que estamos falando. Isso é algo que precisa ser discutido com o médico. Existem alguns tipos de problemas cardíacos que exigem que a pessoa pare de praticar exercícios. E outros que permitem que as pessoas continuem a fazer atividades físicas. O mesmo vale para atletas: depende do caso.

VEJA.com – O senhor já teve de dizer a algum atleta profissional que ele precisaria deixar o esporte?
Thompson - Sim, houve muitos esportistas com doenças cardíacas que passaram por meu consultório e tiveram de ouvir a notícia de que eles não poderiam mais continuar praticando. Essa é uma situação difícil para todos os lados, especialmente para os atletas.

VEJA.com - Como uma pessoa leiga pode saber o momento de parar de praticar esportes? O corpo dá sinais?
Thompson - Não há como uma pessoa normal saber tanto sobre a medicina quanto eu, que fui para a faculdade, estudei medicina e tive experiências práticas de cardiologia esportiva por 30 anos. O que uma pessoa normal precisa fazer é saber prestar atenção no seu corpo: se ele apresentar novos sintomas ou sinais que merecem atenção, elas precisam procurar um médico que tem conhecimento sobre essas coisas.

VEJA.com - Quais são os maiores erros que as pessoas cometem ao praticarem exercícios?
Thompson - Acredito que os maiores erros são cometidos por aquelas pessoas que, só por estarem em boa forma, acham que não correm riscos de ter uma doença cardíaca. Então elas não percebem que estão com problemas quando aparece algum tipo de sintoma, como queimação ou pressão no peito, e continuam a prática normalmente. Muitos pensam que problema cardíaco é sinônimo de dor no peito. O problema é que nem sempre é uma dor, também pode ser um desconforto.

VEJA.com - Por que, em geral, a população ainda leva uma vida sedentária, apesar dos conhecidos benefícios do exercício?
É da natureza humana, está nos nossos genes. Há 5.000 ou 10.000 anos, se não tivéssemos a necessidade de buscar fontes alimentares e se pudéssemos descansar, nós descansaríamos. Faz parte da humanidade querer parar um pouco para guardar as energias, porque, quando você está repondo suas energias, não precisa comer tanto. Então, geneticamente estamos relacionados a pessoas que, no passado, se não tivessem que sair para colher ou caçar, estariam descansando, repondo energias. O que acontece é que, apesar de vivermos na era moderna, nossos genes ainda são muito velhos e estão relacionados com o passado.

VEJA.com - Como reverter isso?
Thompson - Não sei a resposta. Imagino que mudar isso dependa de uma “engenharia social”. Ou seja, é importante mudar algumas estruturas da sociedade fazendo com que fique mais fácil para as pessoas se exercitarem. Em outras palavras, restringindo o número de carros nos centros urbanos e, assim, forçando as pessoas a caminharem mais.

Por Natalia Cuminale

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